Aqui, já num era pra Internet tá funcionando?
Ei, quando é que a "cauda longa" vai ficar gorda suficiente pra artista pagar o aluguel? Será que sou único que acha que já era pra tá mió, e tá pió? Vejo todo mundo animadinho, contando views no youtube e followers no twitter, mas de verdade, a internet ainda não chegou lá. Quer dizer, ainda não se tornou capaz de substituir o que as gravadoras faziam, com todos os males. Que era lançar artistas ao mundo profissional da música. "Ah, mas as gravadoras eram horríveis, multinacionais capitalistas que exploravam os artistas e impunham merda ao público". Hmm, sim. Mas claro que isso é metade da história.
Xo explicar como era, pra quem não sabe: gravadora dava muita grana. Tanta, mas tanta grana, que as produtos que vendiam muito sustentavam contratações de artistas novos. Veja nossa gravadora, por exemplo, a BMG. Entramos num selo dentro dela, o Plug, junto com mais umas 10, 15 bandas. Eles nos ofereciam um contrato que tipicamente era de 8 ou 10% de royalties sobre venda, e uma verba de... hmm, acho que hoje em dia seria uns R$ 100.000,00 pra gastar, com estúdio, produtor, capa, etc. E tinha ainda a divulgação e "tour suporte", um investimento pra tentar dar pontapé inicial. Parece surreal, né? Bom demais pra ser verdade? Mas era assim. Daí, faziam uma conta de que era preciso a gente vender cerca de 40.000 discos pra zerar as contas, só a partir daí a gravadora teria lucro. Putz, e como essa conta fechava? Na maioria das vezes, não fechava, mas no geral, funcionava porque o estouro de UM artista sustentava 50, com sobras. Mas claro, os músicos tinham que aprender a lidar com as pressões, a se sentir ameaçados com contratos leoninos, etc, etc, mas era um "negócio", que podia ser bem ou mal conduzido, e gerou milhares de coisas boas e ruins.
Dessa época do Plug, só a gente "foi pra frente". Anos antes eu tinha estado no mesmo selo com o Sexo Explícito, e num deu certo. Normal, a vida é mesmo assim.
E hoje? Hoje vc faz isso aqui ó. Trent Reznor (Nine Inch Nails) deu esse monte de dicas pra novos artistas usarem a internet como promoção (engraçado que ele recentemente deletou sua conta no twitter seguida por mais de 600.000 pesssoas, dizendo-se farto das redes sociais). Muito bom o texto dele. Alguns comentários dos leitores me deixaram besta tipo "nao faço música mas gostaria de fazer sá pra usar essas dicas legais que vc passou" - esse povo num entende que isso é a parte chata do negócio, que a motivação pra se fazer música é completamente outra?
Mas o que tá acontecendo, ao menos aqui no Brasil? Os artistas ainda não conseguem ter uma carreira sustentável decente sem passar pelo mainstream. Radio, TV, etc. É um saco, mas é verdade. E o mainstream tá cada vez mais reduzido, e fechado nas coisas que ainda vendem - segmentos típicos, rótulos prontos, aposta segura, etc... Conheço um monte de gente com trabalhos super bem feitos, comercialmente viáveis, que em outros tempos estariam tentando a sorte numa gravadora, e que hoje em dia ficam presos num amadorismo infinito, aceitando amigos no myspace em vez de fazer shows, vender discos, ganhar dinheiro e viver de musica, enfim. Não estou dizendo que era fácil assim 10 anos atrás, mas havia essa janela. E ainda há, só que tá menor.
Outra coisa chata é o formato. "Ah, ninguém compra mais CD, a nova geração não está nem aí". Ok, mas gravar um CD é objeto de desejo de todo músico que conheço, que tristeza! Pode não comprar, mas pensa em gravar um album, uma coleção de músicas, colocar uma capa, e "fazer um CD". Que diabo, né? Que irônico. Então junta uma grana ou entra num projeto de lei, e faz. E entrega pros amigos. Não tem como distribuir decentemente. No início dessa era até rolou, mas agora quase não tem mais loja de disco especializada, só se compra disco nas megastores. Claro, a alternativa é distribuir na net. Mas cara, e a grana? O leite das crianças? O sujeito não consegue sustentar uma carreira de shows com essa popularidade internética. "Ah, faz um monte de showzim por aí sim, festivais, etc". Amigos, isso não paga nada. Tou falando de receber um cachê gordinho, porque você se tornou popular e leva gente pacas aos shows, com ingresso pago e tudo mais. Aí, uma ou outra banda consegue fazer a ponte e passar ao mundo old school de gravadoras, tv e rádio. Legal, mas isso só prova que os artistas ainda não conseguem "viver de internet", podem até se lançar e manter a carreira por ela, mas a janela pro profissionalismo tá muito menor.
Em outras áreas, a coisa também ainda não chegou lá, como a cobrança de direitos autorais por execução em streaming - que é a saída, eu acho - pagos por anunciantes, não pelo ouvinte. O Ecad não consegue receber direitos autorais de redes lucrativas como a MTV (o que seria justo) e ao mesmo tempo faz um papelão agindo como polícia em festas e bares. Que nhaca.
Eu não posso reclamar, faço parte de projetos que aconteceram antes disso tudo e posso me aproveitar de uma certa notoriedade adquirida pra continuar minha carreira. Mas embora seja muito mais divertido começar a divulgar uma banda hoje em dia - por causa dos orkuts, myspaces, etc - está cada vez mais valendo aquela máxima: "Eu sou músico". "Ah, tá, e trabalha com o quê?".
Já posso ouvir a plebe ignara rugindo "olha o babaca popstar preso às antigas fórmulas perere pororo". Tesconjuro coisa ruinzinha, minha banda foi uma das primeira a "surfar na internet" - quaquaqua - e acabamos de deixar todo o conteudo dum DVD de grátis em nosso site. Eu vou pra frente, só tou querendo por esse oba-oba em perspectiva.
Desculpa o papo chato. Nova opinião sobre um assunto já velho, né?
Agora deixa eu dizer o que acho do acesso a milhares de bandas novas na internet: é legal, mas minha capacidade de absorver música nova é a mesma que sempre foi. É boa, mas num tem jeito de aumentar só por que tem mais oferta. Por outro lado, encontrar coisas antigas que eu pensava que nunca mais veria (ou que nunca veria de modo algum) é o máximo. Ié!
Xo explicar como era, pra quem não sabe: gravadora dava muita grana. Tanta, mas tanta grana, que as produtos que vendiam muito sustentavam contratações de artistas novos. Veja nossa gravadora, por exemplo, a BMG. Entramos num selo dentro dela, o Plug, junto com mais umas 10, 15 bandas. Eles nos ofereciam um contrato que tipicamente era de 8 ou 10% de royalties sobre venda, e uma verba de... hmm, acho que hoje em dia seria uns R$ 100.000,00 pra gastar, com estúdio, produtor, capa, etc. E tinha ainda a divulgação e "tour suporte", um investimento pra tentar dar pontapé inicial. Parece surreal, né? Bom demais pra ser verdade? Mas era assim. Daí, faziam uma conta de que era preciso a gente vender cerca de 40.000 discos pra zerar as contas, só a partir daí a gravadora teria lucro. Putz, e como essa conta fechava? Na maioria das vezes, não fechava, mas no geral, funcionava porque o estouro de UM artista sustentava 50, com sobras. Mas claro, os músicos tinham que aprender a lidar com as pressões, a se sentir ameaçados com contratos leoninos, etc, etc, mas era um "negócio", que podia ser bem ou mal conduzido, e gerou milhares de coisas boas e ruins.
Dessa época do Plug, só a gente "foi pra frente". Anos antes eu tinha estado no mesmo selo com o Sexo Explícito, e num deu certo. Normal, a vida é mesmo assim.
E hoje? Hoje vc faz isso aqui ó. Trent Reznor (Nine Inch Nails) deu esse monte de dicas pra novos artistas usarem a internet como promoção (engraçado que ele recentemente deletou sua conta no twitter seguida por mais de 600.000 pesssoas, dizendo-se farto das redes sociais). Muito bom o texto dele. Alguns comentários dos leitores me deixaram besta tipo "nao faço música mas gostaria de fazer sá pra usar essas dicas legais que vc passou" - esse povo num entende que isso é a parte chata do negócio, que a motivação pra se fazer música é completamente outra?
Mas o que tá acontecendo, ao menos aqui no Brasil? Os artistas ainda não conseguem ter uma carreira sustentável decente sem passar pelo mainstream. Radio, TV, etc. É um saco, mas é verdade. E o mainstream tá cada vez mais reduzido, e fechado nas coisas que ainda vendem - segmentos típicos, rótulos prontos, aposta segura, etc... Conheço um monte de gente com trabalhos super bem feitos, comercialmente viáveis, que em outros tempos estariam tentando a sorte numa gravadora, e que hoje em dia ficam presos num amadorismo infinito, aceitando amigos no myspace em vez de fazer shows, vender discos, ganhar dinheiro e viver de musica, enfim. Não estou dizendo que era fácil assim 10 anos atrás, mas havia essa janela. E ainda há, só que tá menor.
Outra coisa chata é o formato. "Ah, ninguém compra mais CD, a nova geração não está nem aí". Ok, mas gravar um CD é objeto de desejo de todo músico que conheço, que tristeza! Pode não comprar, mas pensa em gravar um album, uma coleção de músicas, colocar uma capa, e "fazer um CD". Que diabo, né? Que irônico. Então junta uma grana ou entra num projeto de lei, e faz. E entrega pros amigos. Não tem como distribuir decentemente. No início dessa era até rolou, mas agora quase não tem mais loja de disco especializada, só se compra disco nas megastores. Claro, a alternativa é distribuir na net. Mas cara, e a grana? O leite das crianças? O sujeito não consegue sustentar uma carreira de shows com essa popularidade internética. "Ah, faz um monte de showzim por aí sim, festivais, etc". Amigos, isso não paga nada. Tou falando de receber um cachê gordinho, porque você se tornou popular e leva gente pacas aos shows, com ingresso pago e tudo mais. Aí, uma ou outra banda consegue fazer a ponte e passar ao mundo old school de gravadoras, tv e rádio. Legal, mas isso só prova que os artistas ainda não conseguem "viver de internet", podem até se lançar e manter a carreira por ela, mas a janela pro profissionalismo tá muito menor.
Em outras áreas, a coisa também ainda não chegou lá, como a cobrança de direitos autorais por execução em streaming - que é a saída, eu acho - pagos por anunciantes, não pelo ouvinte. O Ecad não consegue receber direitos autorais de redes lucrativas como a MTV (o que seria justo) e ao mesmo tempo faz um papelão agindo como polícia em festas e bares. Que nhaca.
Eu não posso reclamar, faço parte de projetos que aconteceram antes disso tudo e posso me aproveitar de uma certa notoriedade adquirida pra continuar minha carreira. Mas embora seja muito mais divertido começar a divulgar uma banda hoje em dia - por causa dos orkuts, myspaces, etc - está cada vez mais valendo aquela máxima: "Eu sou músico". "Ah, tá, e trabalha com o quê?".
Já posso ouvir a plebe ignara rugindo "olha o babaca popstar preso às antigas fórmulas perere pororo". Tesconjuro coisa ruinzinha, minha banda foi uma das primeira a "surfar na internet" - quaquaqua - e acabamos de deixar todo o conteudo dum DVD de grátis em nosso site. Eu vou pra frente, só tou querendo por esse oba-oba em perspectiva.
Desculpa o papo chato. Nova opinião sobre um assunto já velho, né?
Agora deixa eu dizer o que acho do acesso a milhares de bandas novas na internet: é legal, mas minha capacidade de absorver música nova é a mesma que sempre foi. É boa, mas num tem jeito de aumentar só por que tem mais oferta. Por outro lado, encontrar coisas antigas que eu pensava que nunca mais veria (ou que nunca veria de modo algum) é o máximo. Ié!